Nasce o novo projeto de Silva: “Encantado”. Esse será o sexto disco autoral da carreira do cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista. O disco estreia nas plataformas digitais no dia 23 de maio, pela Som Livre.
Para Silva, o desejo de voltar a compor e apresentar ao público um novo trabalho era imenso: “Estava sentindo falta de compor, de fazer músicas que causam emoções, que arrepiam”, comenta o artista. Foram alguns anos de amadurecimento para chegar até o conceito final do álbum.
O título da obra surgiu para Silva antes mesmo do primeiro acorde ou melodia do álbum. A ideia nasceu durante o carnaval de 2022, assistindo aos desfiles das Escolas de Samba na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Emocionado, Silva foi unindo algumas referências: “Essa coisa do encantamento me lembra os músicos impressionistas, que me lembra o berço da música brasileira, que me lembra o samba. Me lembra tudo que tem de melhor em nossa cultura. E sinto que agora é como se eu estivesse tendo a chance de me reformular e me apresentar de novo para as pessoas. Prazer, meu nome é Silva, encantado”.
Após a definição do nome, foram muitos meses trabalhando na criação das músicas e no conceito do projeto. Ao lado de Lucas Silva, seu irmão e principal parceiro nas canções, compuseram mais de 30 faixas. Ao fim, 16 foram selecionadas para o disco, que une diferentes referências do artista, que vão do samba ao jazz, passando pelo hip hop e a MPB, descrevendo bem o momento atual de Silva.
Com atmosfera solar, característica do artista, o álbum também apresenta canções com certa melancolia. Em ‘Encantado’, Silva canta, toca piano, sintetizador, guitarra, violão, baixo e violino - instrumento no qual é formado pela Faculdade de Música do Espírito Santo - além de assumir a produção musical, ao lado de André Paste.
Com o currículo repleto de parcerias com nomes de peso como João Donato, Gal Costa, Tom Zé, Marisa Monte, Criolo, Liniker, Ludmilla, Lulu Santos, Anitta, Don L, Fernanda Takai, entre outros, Silva traz no álbum participações de algumas de suas referências na música, como Arthur Verocai. “Um dos maiores maestros da história da música brasileira, uma honra tê-lo no álbum”, comenta.
Músico carioca de 78 anos, Verocai, que possui gravações sampleadas por 69 músicas de artistas do mundo todo, assina os arranjos de cordas e metais em ‘Girassóis’. A faixa, que também inspirou a capa do álbum, com obra inédita do artista contemporâneo Elian Almeida, traz melodia refinada ao som do piano de Silva, além de violinos, violoncelos, violas, flauta, trompete e sax alto. A música proporciona o encantamento proposto por ele ao longo de todo o disco.
Marcos Valle, outra grande participação no disco, aparece em ‘Copo D’água’. Na canção de espírito leve, Silva e Valle fazem um dueto vocal e no piano elétrico. “Céu azul / água de coco / toda vez que eu te vejo fico louco / que calor / quase me mata / vem me dar um beijo ou traz um copo d’água”, diz um trecho da letra.
A cantora portuguesa Carminho, uma das principais fadistas da atualidade, vem com sua voz dramática e potente em ‘Carmesim’. A faixa traz sample de “O Preço de Uma Vida", de Erlon Chaves E Sua Orquestra, que fez parte da trilha da novela da TV Tupi, de 1965, e conta também com a participação da instrumentista Gabriele Leite, revelação brasileira do violão clássico.
Música composta por Silva e Lucas Silva, ‘Amanhã de manhã (Para Lecy)’, ganhou a participação brilhante de Leci Brandão, uma das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira. “Leci chegou de um jeito muito bonito e emocionou a todos. Foi especial contar com ela nessa faixa”. O samba expressa sentimentos de amor e nostalgia: “Já morri, já morri de saudades/ A pensar em quem não vai voltar/ Amanhã, se não for muito tarde/ Vou viver pra me reencontrar”. Os parênteses (Para Lecy) ao final do nome da faixa trazem a explicação dos irmãos autores de que a faixa foi feita em homenagem tanto à sua avó quanto à mãe de Leci Brandão. Ambas têm o mesmo nome, Lecy.
Em “Recomenzar” Silva conta com uma parceria inédita com o cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, onde grava em espanhol pela primeira vez na carreira. “Enviei a música ao Drexler e ele pediu para fazer a segunda parte. Fiquei muito animado. Ele é um artista incrível e uma pessoa muito aberta, criativa e generosa. Me ajudou também a achar a entonação ao interpretar em espanhol.”, comenta Silva.
‘Encantado’ conta com mais onze faixas, incluindo ‘Abram Alas’, que como o nome já sugere, é a primeira do disco. Segundo o artista, a música resume todo o discurso do álbum e é uma canção que evoca coragem e mostra o caminho a seguir. ‘Na Hora Mais Bonita’ vem com a linha suave e suingada do álbum, com presença marcante da linha de baixo elétrico. A balada romântica ‘Vou falar de novo’ traz arranjo de cordas de Silva, assim como na faixa ‘Já Era’, onde o artista assume diferentes instrumentos.
‘8 Segundos’ aparece como um interlúdio interpretado no violão e voz de Silva, além de ‘Motivo’, que dessa vez traz um solo do artista em seu instrumento predileto, o piano. O disco também conta com as batidas de ‘Eu Gosto de Você’, faixa mais dançante do álbum, e ‘Mad Machine’, que traz o artista cantando em inglês, numa clássica balada de voz e violão.
Em ‘Arrebol’, Silva usa apenas a voz e faz um coral de auto-tune para homenagear o pôr do sol, tema bem presente em suas músicas. Na canção ‘Risquei Você’, que possui dois momentos, o cantor transita do sintetizador ao violão de nylon. O disco encerra com as guitarras de ‘A Vida é Triste Mas Não Precisa Ser’, deixando uma possibilidade ambígua. “É uma música que você sorri chorando ou chora sorrindo”, define o artista.
Filhos de uma professora de musicalização infantil, Lúcio Silva (Silva) e o irmão (Lucas Silva) têm bases musicais muito fortes. Juntos a dupla assina a maioria das faixas do disco. “Somos letra e música e já temos uma sintonia de uma vida, sempre fomos assim”, pontua Silva.
Feliz e orgulhoso de sua trajetória, o artista afirma que gosta de olhar apenas para frente quando o assunto é a sua carreira. “Não acredito que o ato de pesquisar música com afinco, algo que amo muito fazer, seja um “olhar pra trás”. É um processo de estudo, de respeito pela arte que já se fazia aqui antes da gente pisar nesse planeta. Eu encaro o meu passado com carinho, porque tudo que fiz na minha carreira foi sincero. E o que deixou de ser sincero eu simplesmente abandonei e deixei ir. Esse novo trabalho não olha para trás, apenas para frente. E é pra frente que se anda. Agora, pra mim, a música do passado é tão importante quanto a música do presente. Inclusive tanta coisa boa já foi gravada e que nos ensina tanto! Eu faço o que sinto, sigo meus sentimentos. O importante é vir de dentro da gente. E como Donato falava: o negócio é beber água”.
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